sábado, 8 de setembro de 2007

Pasquim Iati

Um jornal para quem tem um parafuso a mais Ano I nº. V Setembro 2007.

"é preciso viver, não apenas existir" Plutarco


Eu odeio futebol!


Nunca gostei de futebol e nem pretendo gostar, não vejo graça alguma ver vinte dois marmanjos correndo atrás de uma bola; não torço pra nenhum time, estou pouco me lixando pra quem tá liderando o campeonato brasileiro, que seleção lidera o ranking da FIFA, que jogador é escolhido o melhor do mundo.
Nunca me interessei também pelo estudo, mas aprendi na aula de História que a palavra futebol tem origem inglesa: football, bola de pé. E que esse esporte foi invenção da Inglaterra, e eu que pensava que esse esporte nacional era genuinamente brasileiro. Que decepção! O futebol chegou por estas terras há uns 100 anos por um “brasileiro” de nome bastante sugestivo: Charles Müller, mais inglês impossível (é provável que ele nunca tenha jogado futebol às 5 horas, por causa do chá), e que logo se tornou um esporte praticado em todo o mundo. Às vezes me perguntava por que diabos, logo o futebol ser o esporte mais popular do mundo? Aí vêm as lembranças do meu pouco tempo de escola, quando aprendi que entre o século XVIII e início do século XX, a Inglaterra era uma superpotência mundial, tinha colônias nos quatro cantos do mundo, comprava ópio da Índia e revendia para o mundo, fabricava armas para países como Brasil e Argentina desencadearem a famosa Guerra do Paraguai. Logo, um país tão poderoso não queria ficar com fama de malvado, tratou de recrutar ingleses que teriam a missão de levar o football para todos os países que ela governava, mesmo que indiretamente, incluindo aí o Brasil com o Müller, pouco tempo depois, palavras inglesas como gol, cornner, passaram a fazer parte do nosso cotidiano. O resto da história você já conhece.
Pois é, e recordando o que havida dito no início, eu não gosto de futebol, muito menos de história, mas como é um esporte nacional e não estudei, não tive escolha, entrei jovem para um time qualquer, dei sorte de ser descoberto por um olheiro e pouco tempo depois estava na seleção canarinha, foi minha maior felicidade, porém, como me tornei representante desse povo, tive de me acostumar com o jogo, passar a incentivar a sua prática, pressionado pelos patrocinadores, pela televisão, por dirigentes, até que não agüentei mais e fui vendido, talvez como fossem vendidos os escravos antigamente, só que para um clube europeu, não lembro também o nome do time, porque não importa, Machester, Milan, Real Madri, Corinthians, Seleção Brasileira, tanto faz. Diante das câmeras e dos repórteres digo que povo brasileiro é muito feliz, pois é o único país pentacampeão, mas Deus me livre de voltar pra morar lá, prefiro aqui a Europa, Brasil só em época de carnaval, pois o Rio fica cheio de gringos. Mas por dentro eu sei que feliz sou eu, pois agora mesmo enquanto escrevo esse texto, ou mesmo enquanto durmo, meus lucros só aumentam, enquanto alimento a crença de milhões de brasileiros que não ganham nada para torcer, não ganham em um ano o que eu ganho em uma hora, que sonham com uma Bebel enquanto eu durmo com Cicarelle, Raica, e tantas modelos que até esqueço, eu que na infância era um simples moleque, crioulo, sou hoje, graças ao futebol, à Inglaterra, aos milhões de brasileiros, aos times que me compram e que me vendem, afinal há um preço a pagar, um exemplo de que é possível subir na vida através da idiotice de toda uma nação.

Ass.: Qualquer grande astro de futebol, pode ser Ronaldo, Roberto...
P.S. como havia dito, como nunca liguei para estudo, e tenho muito dinheiro, paguei para o redator do Pasquim Iati, Márcio José escrever para mim!

(nota do redator: os erros de português são dos jogadores)


Dia Sete de setembro


O grande dia está para chegar. Dia 7 de setembro! Vamos comemorar todos juntos, com a mão no peito, cantando hinos. Desfilando nosso orgulho de sermos brasileiros, nas ruas das cidades, na capital do país.
É o dia de lembrarmos que já fomos dependentes. Porém lutamos, contra Ingleses, Holandeses e Portugueses. Foram anos de guerra até conseguirmos nossa grande Independência.
Um grande cara chamado Márcio me falou que Sete Setembro é um número da cabala. Pois Deus criou o mundo em sete dias, sete dias tem uma semana, antigamente setembro era o mês sete, daí setembro. Era também o mês que na Europa dava-se início à época das vacas magras, pois o inverno se aproximava. Sete dias é o tempo que demora cada fase da lua. E Jesus disse: "Deves perdoar setenta vezes sete" Sete é um número perfeito. Daí tudo se explica e se aplica ao nosso País. É um país perfeito.
Mas se fosse dia 8 de setembro, ai tudo ia ser diferente. Não seríamos o país das maravilhas. Haveríamos de ter mensalões para políticos corruptos, fábricas de cuecas especializadas em couro, para maior resistência e durabilidade. Seríamos um País subdesenvolvido, veríamos crianças passando fome. Teríamos o fenômeno do Coronelismo, quem sabe também existiriam políticos paternalistas e populistas. Íamos vender parte do nosso patrimônio por merreca, imaginem só nosso país tão rico e tão próspero sendo vendido a preço de banana para multinacionais!
Entretanto, ainda moramos na famosa Pásargada de Manoel Bandeira. Pois graças aos números da cabala, escolhemos o dia certo: Sete de setembro. Melhor ainda, não foi um brasileirinho qualquer que nos proclamou independentes, e sim um grande português que nos quis tanto bem: D. Pedro I. esse sim merece todo nosso respeito, como dedico todo respeito aos Grandes presidentes que fizeram nossa história.

(Elza Nayara)


Panis et Circenses

“eu vejo o Futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não pára” (Cazuza)

Na Roma da Antigüidade Clássica, havia um tipo de política bem peculiar, era a chamada política do Pão e Circo (panis et circenses). César dava a massa pobre e faminta, alimentação e espetáculos estes que aconteciam no coliseu principalmente. Iati, cidade com IDH baixíssimo, também funciona com a política de pão e circo. Bolsa família para alimentar o corpo, e MotoCross para alimentar a cabeça do povo.
Com a crise do trigo em Roma e o crescimento no número de escravos, parte da população rural voltou-se para a área urbana, provocando o inchamento da cidade e, portanto criando uma classe de desempregados, estes que foram submetidos a um tipo de política assistencialista sendo então sustentados pelo governo e pelos patrícios. Com isso surgiu o clientelismo, nomenclatura dada a essa massa, estes que por sua vez desempenhavam o papel de puxa-saquismo. Os denominados clientes eram alimentados pelos patrícios, o preço do trigo era mais baixo para classe pobre e quase todos os dias havia as lutas entre gladiadores. Assim com a mente e o corpo nutridos, os romanos esqueciam-se de sua condição miserável e dificilmente se rebelavam contra os governantes daquela cidade.
Da mesma forma se dá aqui no Brasil, país caracterizado por ter presidentes populistas. Em Iati evidencia-se esse tipo de política que além de ser populista, é também coronelista, deixando ainda mais aguda a situação. O povo sofre e passa fome. Fome e sede de educação, esporte, entretenimento, cultura. Essas coisas que todos já sabem de cor. Mas esquecem-se absurdamente quando o motor das motos começa a fazer barulho. Vai ver que a zoada interfere nos sentidos dos iatienses, que passam a não ver, não ouvir, e não sentir mais nada, apenas o vôo radical das motos e o roncar dos seus motores. Não se tocam que a grandiosidade do evento trás mascarada a falta de merenda nas escolas, remédios no hospital, falta investimento em áreas realmente importantes e primárias para o bem estar de uma sociedade.
E a pergunta que se faz: quem quer acabar com o MotoCross? Ninguém. Essa é a resposta, preferem passar necessidade, se iludirem na futilidade, esquecerem as próprias deficiências, uma delas que é a de não exigir os seus direitos. Trocam seu direito por uma festa. Trocam suas dignidades, por uma esmola e um MotoCross. Por pão e circo, tal como foi em Roma, tal como é no Brasil com seu futebol e seu carnaval.

(Elza Nayara)

  • Francisco (Quequeta)
Metamorfose


Apesar do título parecer sugestivo, não me refiro a “Metamorfose Ambulante”, do velho, Rauzito. Talvez, tendesse mais, a uma reverência ao grande mestre, Esopo.
De tempos em tempos, é comum no Brasil, alguns animais se metamorfosearem, não falo de lagarta; falo de “Lobos e Cordeiros”, pois é, em dado momento observamos que os velhos lobos já cansados de seus truques, artimanhas e armadilhas, para capturar suas presas, resolveram mudar de pele, isso mesmo, adotar um disfarce. Os lobos, conhecidos cientificamente por “Carnívurus Vulgaris” tornam-se cordeiros, ou como é mais conhecido, simplesmente carneiros, conhecidos também de forma científica por “Herbívurus Imbecilis”. Já não vemos seus caninos agudos nem suas garras afiadas, tudo está embutido na nova pele. Esse carneirinhos só não conseguem esconder seus hábitos de lobo, pois continuam carnívoros vorazes, e por esse Brasil a fora eles devoram tudo quanto é galinha, peru, bode, boi e por incrível que pareça nem o próprio carneiro escapa, deste, eles devoram até as tripas, só se salva o berro.
Enquanto divago nesse besteirol, lembrei Chico Buarque, que na época da ditadura militar produziu trabalho maravilhoso. Para quem guarda alguma memória esse período foi áureo na história da música popular brasileira. Vejamos essa metáfora da vida social brasileira, composta por Chico. São estrofes da música Geni e o Zepelim, e espero que nos ajude a refletir sobre a realidade do hoje, no Brasil.

(...) Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim (Era um dirigível)
Pairou sobre os edifícios
Abriu dos mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo – Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela famosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O PREFEITO de joelhos
O BISPO de olhos vermelhos
e o BANQUEIRO com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
BENDITA GENI

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga BOSTA na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
MALDITA GENI

E assim, quando precisam das pessoas, chamam de BENDITAS, quando usam, Joga merda, joga bosta, joga Cocô, joga fezes...joga qualquer porra nesses MALDITOS!

Um comentário:

Anônimo disse...

Poxa vida minha gente!
A edição do Pasquim essi mês ta de matar!
muitooo boa mesmo!
Parabénss!!!!!
Márcio e Elzinha, cada vez mais mostrando a realidade realidade em que vivemos!

bejoo.